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12/11/2014

Secretaria de Obras e Serviços Públicos

Diretor da seção de cultura musical de Nova Petrópolis recebe prêmio literário

Ederson Moreira dos Santos venceu concurso da 29ª Feira do Livro de Farroupilha...

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O diretor da seção de cultura musical de Nova Petrópolis, Ederson Moreira dos Santos, também conhecido como Gaudêncio Terra, teve seu primeiro conto premiado. “A história de um homem só” venceu o XII Concurso Regional de Contos, Crônicas e Poesias Oscar Bertholdo, realizado durante a 29ª Feira do Livro de Farroupilha.

Gaudêncio recebeu o troféu e menção honrosa de Destaque Regional quinta-feira, dia 06 de novembro, no palco principal da Feira do Livro de Farroupilha, que ocorreu na Praça Emancipação. A secretária de Educação de Farroupilha, Elaine Giuliato fez a entrega do prêmio para Gaudêncio Terra.

Este foi o 7º prêmio literário conquistado pelo poeta e escritor, que já venceu concursos como ENART, Semana Farroupilha de Porto Alegre, Entre Verbo e o Rodeio Nacional de Canela. “Este foi meu primeiro conto premiado”, declarou Gaudêncio, satisfeito pela participação.

 

Confira a obra premiada no XII Concurso Regional de Contos, Crônicas e Poesias Oscar Bertholdo

 

A HISTÓRIA DE UM HOMEM SÓ

O barulho da cachorrada tirou o velho da modorra em que se encontrava naquela tarde mormacenta de domingo. O tédio e a tristeza lhe doíam a alma, como se entrevasse o restante de vida que ainda lhe sobrava. Tudo em sua volta era luxo.

O casarão com seus quartos de hóspedes bem cuidados, a mobília mandada vir da capital sob medida, pratarias, obras de arte e tudo mais para se viver com conforto dentro daquela casa. E seus entornos então, os cinamomos plantados retilineamente com tanto esmero, cercas com moirões pintados a cal, mangueira de pedra de duzentos anos, mas intacta, tudo pela sua obsessão e capricho.

Lembrou-se de quando mais jovem, enquanto seus amigos participavam de festas e carreiradas, ele trabalhava, trabalhava, trabalhava sem parar não queria que seus filhos passassem por tudo o que ele tinha passado, aliás, ainda estava passando. Tinha prometido a si mesmo que não seria como foi seu pai, que sempre dizia dinheiro não é nada, importante são as pessoas isto lhe irritava de que adiantava ser bem quisto, ter tantos amigos, mas viver passando necessidades.

Teria muitas posses, gado, campo e também peões que lhe obedecessem cegamente por isso cumpriria a promessa feita a si mesmo custasse o que custasse. E quando chegou o tempo do casamento, aguentou de tudo para poder casar com Silvana, desde os desaforos do sogro até os falatórios dos vizinhos, que viam naquele enlace nada mais que interesse, pra ele pouco importava o que os outros falavam, sabia aonde queria chegar e os vizinhos, que fossem “se afumentar”, aguentou tudo no osso do peito, nada cai do céu.

- Quando a gente quer, a gente consegue. Esse era o seu lema, casou, vieram os filhos dois machos e uma fêmea.

E a promessa feita estava cumprida, tiveram do bom e do melhor e a fazenda herdada do sogro cada vez mais pujante, piadas e chacotas do início da vida eram agora engolidas por quem havia rido dele. Ninguém de sã consciência teria o peito de rir do homem mais poderoso da região.

Até os figurões da política vinham lhe beijar a mão. Isto sim era vida, o prefeito, o delegado, todos lhe pedindo a bênção.

É verdade que nem viu os filhos crescerem, assim que pôde, melhor que tiveram idade suficiente, os mandou pra cidade pra estudarem, queria que eles fossem ainda maiores do que ele.

- Afinal dinheiro nunca é demais! Afirmava sempre. Seus filhos tinham de ter autoridade  para mandar no que era seu.

Quando Silvana morreu, houve muito falatório que tinha sido de desgosto por causa da ausência do marido, sempre pensando em dinheiro. Mas isso era pura invenção deste povo que ao invés de trabalhar, ficava cuidando da vida dos outros.

A Silvana não tinha o direito de reclamar de nada, afinal, triplicara a herança de seu pai, e uma vez até pagou uma viagem dela com os filhos pra Europa.

- Que bobagem, reclamar do quê? Dinheiro havia pra comprarem o que quisessem.

Quantas vezes seus amigos fazendeiros, alguns com bem menos do que ele, se davam ao luxo de darem festas pra peonada, com bebida e churrascadas à lá farta. Mas que se danassem, ele não se dava a esse despautério. Dizia:

- Eu sei de onde vem o meu dinheiro, ele não nasce em árvore. Eu já pago em dia por que é? Que tenho que andar pagando churrascada pra essa gente? Que eu sei bem que nem gostam de mim, me servem porque pago.

Lembrou também do velório do velho Isidro, seu pai, nunca vira tanta gente na vida. Muitos dos quais nunca tinha sequer visto, mas de que adiantava? O velho morreu sem ter dinheiro nem pra pagar o próprio velório.

- O amigo de todos! - Falou com desdém pra um dos irmãos que reclamou que ele não tinha vindo visitar o velho durante a doença.

Uns derrotados! - Pensou ele, não são nada.  - Eu sim, sou vencedor, tenho tudo o que sonhei.

Quando um “oh de casa”! O fez voltar para o presente. Olhou para o terreiro da frente onde uma voz do passado fez com que ele, patrão, dono de tudo nas redondezas, voltasse a realidade.

Olhando Natálio com o netinho pela mão, lembrou-se de quando eram amigos inseparáveis, só não continuaram assim porque Natálio não tinha nem um pingo de ambição, quando ele quis lhe chamar a atenção sobre a solidão que o dinheiro trazia, houve um rompimento entre os dois, sem discussão, sem briga, um simples esfriar de relação onde terminam as semelhanças e surgem as diferenças, ainda eram amigos é verdade mas nunca mais foi como antes.

- Onde já se viu achar que dinheiro poderia atrapalhar a vida de alguém, só mesmo um pobre coitado como o Natálio.

E num domingo destes, com o neto a tiracolo ter vindo lhe visitar só podia estar numa precisão.

Aliás, o nome do piá era Natálio Neto, uma homenagem do genro ao sogro.

- Pobre tem destas manias!

Olhou para o antigo “amigo”, ali, sorridente, como se tivesse a maior de todas as riquezas e pensou:

- Pobre homem penso que é feliz, não tem nem onde cair morto.

Neste momento, lembrou que há muito não via os filhos, nem conhecia o neto mais novo. Nenhum dos filhos se interessara pela lida na fazenda, que cuidara por tanto tempo para lhes entregar.

Percebeu que depois da morte da mãe, eles quase nem apareciam e raramente mandavam notícias. Seus filhos eram quase desconhecidos. E depois de tudo que ele tinha feito por eles. Sentiu-se sozinho, mais sozinho do que nunca. E foi receber Natálio, com a tristeza daqueles homens, que nada têm além de dinheiro.

FIM


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